domingo, 10 de outubro de 2010

A PRECE DO CÃO

A PRECE DO CÃO







Trata-me com carinho, meu amado mestre


´pois nenhum coração em todo o mundo


será mais agradecido que o meu.






Não tente me educar com pancadas,


pois embora eu possa lember-lhe as mãos entre um golpe e outro,


a sua paciência e compreensão ensinar-me-ão mais rapidamente


as coisas que espera que eu aprenda.






Fale-me muito, pois sua voz é múdica do meu mundo,


como pode perceber, pelos sacolejos de minha cauda,


quando ouço seus passos.






Quando o tempo está frio e chuvoso,


conserva-me dentre de casa, pois sou animal doméstico,


sem preparo para enfrentar as intempéries do tempo,


e a minha maior glória será o privilégio de sentar-me a seus pés.






Conserva minha vasilha com água fresca,


pois além de não poder reclamar quando ela está seca


também não posso dizer-lhe quando tenho sede.






E, mestre.


quando eu estiver bem velho


se o PODESO me privar de saúde e visão,


Por favor,


Não me vire as costas...


faça-me o bem de deixar que a minha vida


de dedicaçao e fidelidade,


possa se extinguir suavemente,


porém não me deixe sofrer ,


e eu o farei sentir


com meu último alento,


que sempre me senti seguro,


em suas mãos.


AMÉM



sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A CANÇÃO DA SAUDADE

Que tarde imensa e fria!
Lá fora o vento rodopia...
Dança de folhas...Folhas, sonhos vãos ,
que passam, nesta dança transitória,
deixando em nós, no fundo da memória
o olhar de uns olhos e a carícia de umas mãos.
Ante a moldura de um retrato antigo,
põe-se a gente a evocar coisas emocionais.
Tolda-se o olhar, o lábio treme, a alma se aperta,
tudo deserto...a vida em torno tão deserta
que vontade nos vem de sofrer mais!
Depois, há sempre um cofre e desse cofre
tiramos velhas cartas, devagar...
É a volúpia inervane de quem sofre:
ler velhas cartas e depois chorar....
Que tarde imensa e fria!
Nunca mais te verei...Nunca mais me verás...
Lá fora o vento rodopia...
Que desejo me vem de sofrer mais!

                                       OLEGÁRIO MARIANO