sábado, 24 de julho de 2010

O OLHAR DOS ANIMAIS







Vão pensar que eu só sei falar e pensar em animais. Estarão 50% corretos. Não posso impedir meus pensamentos.


Acontece que eu ia passando pelo Rio das Pedras, lugar bem pobre, mas que corta caminho para a Barra da Tijuca, no caso de ir-se pegar o tunel para a zona sul.


Meu marido dirigia e eu então apenas olhava para fora. Foi quando vi um cão preto mais ou menos do tamanho de um labrador. Era um SRD, pelo liso e orelhas abaixadas. Ele andava bem juntinho do muro com a cabeça arriada olhando para o chão. Não vi seus olhos. Todo o seu aspecto era de tristeza, de abandono. Me veio na mente um ser humano sozinho, abandonado triste por não ter ninguém. Isso existe muito , sabemos disso.


Não esqueci a cena, porque estava tão clara a tristeza daquee cão que se eu tivesse um quintal grande, certamete ele agora estaria de cabeça e orelhas em pé, num lar de quem o trataria com amor. Mas, infelizmente nao tenho nem quintal grande, nem saúde para fazer isso. Fico triste de pensar que algum dia ele pertenceu a alguém que o jogou fora feito lixo.Apesar de estar na rua, ele era bonito.


Costumo olhar bem nos olhos dos animais. Podemos ver a diferença entre um bicho que é bem tratado e amado do olhar de um abandonado ou até maltratado.


Eles não sabem falar, mas falam muito bem com os olhos. Não precisa muito esforço para se entender o que desejam dizer com os olhinhhos.
Tenho muita pena das pessoas que vivem na beira da miséria. Mas tenho também muita tristeza de ver um animal que não faz mal a ninguem nem em atos , nem em pensamentos como os seres humanos. Assim continuo na minha idéia, posso até estar errada, não sou dona da verdade, de que crianças e animais jamais deveriam sofrer absolutamente, nem ter doenças. Simplesmente não deveriam sofrer. Só posso dizer que a imagem daquele cão preto andando cabisbaixo pelo cantinho do muro, não me saiu da mente, e penso que deve ser muito triste, pois os animais tambem têm tristezas, não ter para onde ir, uma casa para voltar. Enfim, não tenho mais 20 anos, senão eu daria um jeito de colocá-lo na garagem de casa e em cima da garagem também. As coisas ficaram dificeis para mim e antes de fazer algo, tenho que pensar se poderei ir até o final. Espero que aquele cão tenha encontrado alguém bondoso que lhe ampare. Enfim....não se pode consertar o mundo e nem abraçar todas as causas que gostaríamos. Só resta pensar positivo para também não sofrer por não poder fazer nada. Pobres animais!!!

                                                              NAJA

DESPEDIDA

Despedida



Por mim, e por vós, e por mais aquilo


que está onde as outras coisas nunca estão


deixo o mar bravo e o céu tranqüilo:


quero solidão.


Meu caminho é sem marcos nem paisagens.


E como o conheces ? - me perguntarão. -


Por não Ter palavras, por não ter imagem.


Nenhum inimigo e nenhum irmão.


Que procuras ?


Tudo.


Que desejas ?


Nada.


Viajo sozinha com o meu coração.


Não ando perdida, mas desencontrada.


Levo o meu rumo na minha mão.


A memória voou da minha fronte.


Voou meu amor, minha imaginação ...


Talvez eu morra antes do horizonte.


Memória, amor e o resto onde estarão?


Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.


(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão !


Estandarte triste de uma estranha guerra ... )


Quero solidão.

Cecília Meireles







sexta-feira, 23 de julho de 2010

NO CAMINHO COM MAIAKÓVSKI




NO CAMINHO, COM MAIAKÓVSKI






Assim como a criança


humildemente afaga


a imagem do herói,


assim me aproximo de ti, Maiakósvki.


Não importa o que me possa acontecer


por andar ombro a ombro


com um poeta soviético.


Lendo teus versos,


aprendi a ter coragem.






Tu sabes,


conheces melhor do que eu


a velha história.


Na primeira noite eles se aproximam


e roubam uma flor


do nosso jardim.


E não dizemos nada.


Na segunda noite, já não se escondem:


pisam as flores,


matam nosso cão,


e não dizemos nada.


Até que um dia,


o mais frágil deles


entra sozinho e nossa casa,


rouba-nos a luz e,


conhecendo nosso medo,


arranca-nos a voz da garganta.


E já não podemos dizer nada.






Nos dias que correm


a ninguém é dado


repousar a cabeça


alheia ao terror.


Os humildes baixam a cerviz:


e nós, que não temos pacto algum


com os senhores do mundo,


por temor nos calamos.


No silêncio de meu quarto


a ousadia me afogueia as faces


e eu fantasio um levante;


mas amanhã,


diante do juiz,


talvez meus lábios


calem a verdade


como um foco de germes


capaz de me destruir.






Olho ao redor


e o que vejo


e acabo por repetir


são mentiras.


Mal sabe a criança dizer mãe


e a propaganda lhe destrói a consciência.


A mim, quase me arrastam


pela gola do paletó


à porta do templo


e me pedem que aguarde


até que a Democracia


se digne aparecer no balcão.


Mas eu sei,


porque não estou amedrontado


a ponto de cegar, que ela tem uma espada


a lhe espetar as costelas


e o riso que nos mostra


é uma tênue cortina


lançada sobre os arsenais.






Vamos ao campo


e não os vemos ao nosso lado,


no plantio.


Mas no tempo da colheita


lá estão


e acabam por nos roubar


até o último grão de trigo.


Dizem-nos que de nós emana o poder


mas sempre o temos contra nós.


Dizem-nos que é preciso


defender nossos lares,


mas se nos rebelamos contra a opressão


é sobre nós que marcham os soldados.






E por temor eu me calo.


Por temor, aceito a condição


de falso democrata


e rotulo meus gestos


com a palavra liberdade,


procurando, num sorriso,


esconder minha dor


diante de meus superiores.


Mas dentro de mim,


com a potência de um milhão de vozes,


o coração grita - MENTIRA!